Vinha da Linha

Bairrada. Enxofães
Fotografia: Marina Gallani

É uma típica vinha antiga da Bairrada. Pequena, com as cepas desalinhadas, em vaso ao alto, amparadas em canas por vimes, e que marcam visualmente a paisagem. Na borda, algumas oliveiras, outras árvores e arbustos. Um caminho agrícola de terra e uma estrada de alcatrão traçam parte dos limites da parcela. A Vinha da Linha foi plantada, pelo menos, em 1930 (ano em que foi criado o registo da Comissão Vitivinícola da Bairrada) e manteve-se sempre num contexto de agricultura familiar. Em 2017, Luís Gomes incluiu a Vinha da Linha no seu projecto pessoal de trabalhar vinhas antigas na zona de Enxofães, salvando a vinha de ser abandonada, como outras no seu projecto, ou arrancada, como muitas da região.

O solo é argilo-calcário (é a zona da Bairrada com maior predominância de calcário), pobre e pedregoso. Como a maior parte das vinhas centenárias da Bairrada, a casta predominante é a Baga, com alguma quantidade residual de Maria Gomes, Bical, Castelão e Tinta Pinheira. A densidade inicial nesta parcela era elevada, cerca de 10.000 plantas por hectare, ou seja, a métrica francesa de um metro por cepa. Actualmente, como muitas vinhas antigas, está com bastantes falhas, pois houve cepas que foram morrendo e nunca foram repostas. Para voltar ao encepamento inicial de grande densidade, Luís Gomes está a replantar novos bacelos, com varas da própria vinha, conseguindo uma manter a diversidade genética, e criando competição entre as cepas impelindo o sistema radicular para zonas mais profundas.

Em 2017, quando Luís Gomes começou a trabalhar esta vinha, algumas práticas agrícolas foram alteradas, como o abandono dos herbicidas, mantendo o solo com a vida vegetal natural, que é controlada com trabalho manual, enxada ou roçadeira, e conservando-o rico e cheio de vida. Ao longo do ano, a desfolha, a gestão de pâmpanos, a poda e a empa, são realizadas, mantendo a inevitável gestão manual da vinha.

A vindima é realizada num dia, e embora algumas cepas sejam produtivas, a produção é baixa, com perto de quatro toneladas por hectare.

Um século depois de ter sido plantada, a pequena parcela na Bairrada continua a sobreviver às alterações do mundo, contribuindo, no século XXI, com as suas uvas para o lote de um vinho feito exclusivamente de vinhas velhas.