Velhas são as vinhas Menu

Vinha da Serra

Dão. Seia
Fotografia: Beatriz Banha

No início do século XX, foi demarcada a região do Dão, no centro de Portugal. Situada na província da Beira Alta, tem um relevo acidentado, com solos graníticos e um clima é moderado. Maioritariamente, a vinha é distribuída por numerosas pequenas parcelas familiares e por quintas de média dimensão, algumas delas com uma longa e relevante história. Foi para esta região que António Madeira, francês luso-descendente com raízes familiares no Dão, veio viver quando decidiu erguer o seu projecto de produzir vinhos de autor, trocando a vida em Paris por Santa Marinha.

A Vinha da Serra é uma pequena vinha com mais de cem anos, próxima de algumas habitações, no sopé da Serra da Estrela, perto de Seia. Numa exígua zona com menos inclinação na longa encosta da serra, é limitada, de um lado, por uma pequena estrada em cubos de granito e, do outro, por um terreno que já foi um baldio e um pinhal. A vinha tem sido trabalhada por António Madeira desde há cerca de dez anos, primeiro como arrendatário e depois como proprietário, com práticas agrícolas que acredita serem as que mais respeitam a natureza. Adepto da biodinâmica, que também considera ser um regresso às práticas agrícolas dos avós, estimula os solos para terem uma vida microbiana intensa, que melhora a saúde das plantas. Em certos anos, é semeado centeio ou leguminosas nas carreiras entre as cepas para depois de cortados adubarem o solo; em todos, a terra é estrumada para aumentar a matéria orgânica e estimular ao máximo a vida microbiana. O solo é trabalhado com cavalo e com enxada. A poda é Guyot Poussard, escolhida por respeitar os fluxos da seiva.

Actualmente, a vinha da Serra está a crescer de duas formas: internamente, pois as falhas têm sido replantadas com varas da própria vinha, e em parte do terreno circundante. Em 2017, um incêndio fez arder a manta de pinheiros que existia na pequena elevação ao lado da vinha. As árvores carbonizadas foram cortadas, os cepos arrancados e a terra surribada. Depois, durante dois anos, o solo, abundante em mineral, mas sem matéria orgânica ou vida relevante, foi preparado para a plantação das novas videiras. As doses de estrume espalhadas pelo terreno foram elevadas, assim como foi plantado centeio para estruturar e criar matéria orgânica, para o solo estar com uma vida saudável quando recebesse as plantas. Em 2023, foram plantados os porta-enxertos; e, durante 2024, as enxertias vão começar a serem feitas com varas de variedades de branco oriundas das diferentes vinhas cultivadas por António Madeira. Entretanto, quatro filas de videiras foram plantadas em contíguo à vinha velha.

No início do projecto, a vinha da Serra produzia muito pouco, mas algumas vindimas depois, com todo o trabalho desenvolvido, a quantidade de uva duplicou e em certos anos triplicou, sempre com uma qualidade superior. As uvas brancas, vindimadas primeiro, têm como destino o vinho branco, as uvas tintas originam o Vinha da Serra.

«É talvez o vinho mais completo de todos os que faço» afirma o autor, «tem uma elegância, uma finesse, muito grande; um lado feminino, delicado, cheio de pequenas nuances, e sempre com muita frescura. Possui um equilíbrio singular, pois consegue ter dois parâmetros no topo que normalmente são antagónicos. Geralmente, quanto mais se amadurecem as uvas, maior é a maturação e mais baixa é a acidez, a frescura; se vindimarmos cedo, ou seja, se baixarmos o nível de maturação, temos o nível de acidez mais alto. Na Vinha da Serra conseguimos ter a maturação e a acidez no topo, porque estamos cem metros acima das outras vinhas (a maior parte das vinhas estão a quinhentos metros de altitude), portanto, vai exacerbar o lado fresco, fino, e elegante; mas, como está exposta a poente, é muito soalheira, e, por isso, consegue ter ao mesmo tempo frescura e maturação, um equilíbrio raro. Depois, tem uma terceira dimensão, que tem que ver com a textura arenosa do solo, a mais fina de todos os solos nas diferentes vinhas que trabalho, e acho que isso se reflecte na boca, na finesse dos taninos. Por fim, a tinta amarela, que domina o encepamento, que oferece um lado luminoso e aéreo ao vinho.»

Esta é uma história feliz. Depois de procurar vinhas antigas na zona, o trabalho cuidado e decidido, ano após ano, de um vigneron permitiu melhorar e prolongar a vida de uma vinha velha, sobrevivendo assim um pedaço de história e cultura de uma região.

  • LocalizaçãoSeia
  • Área1500m2
  • Terrenoareias graníticas muito finas
  • ExposiçãoPoente
  • CastasDiversas, maioritariamente Tinta Amarela. Algumas brancas.
  • ConduçãoGuyot-Poussard
  • Densidade6000